8 de outubro de 2012

Joaquim Barbosa, Geni e o Zepelim




Todos conhecem a história de Geni, personagem de Chico Buarque que, sexualmente ativa e pouco seletiva em relação a seus parceiros, era enxovalhada pelos moradores da cidade. Um belo dia, ali aporta um temível malfeitor, conduzido por um zepelim prateado, decidido a eliminar o povoado. Ao conhecer Geni desiste do plano, caso ela com ele se deitasse. Nesse momento, Geni passa de devassa a santa: “vai com ele, vai Geni, você pode nos salvar, você vai nos redimir”, clamavam seus concidadãos. Passada a noite de amor, Geni, exausta, não consegue dormir, pois os moradores da cidade, tão logo parte o zepelim, tornam a publicamente perturbar a moça.

Aproximando-se o fim do julgamento da Ação Penal n. 470 Joaquim Barbosa ocupa o papel da santa Geni. É ele quem vai nos salvar, nos redimir. Reproduzido nas redes sociais como um Batman da justiça, Sua Excelência vai sendo construído como um presidenciável. Talvez Freud explique, mas na chefia do Judiciário já afirmou que vai querer participar ativamente da indicação dos próximos Ministros do Supremo, em clara oposição ao texto daquela coisinha sem importância chamada constituição (com minúscula mesmo, por força das circunstâncias).

Mas o zepelim está por partir. Um dia a cantilena acaba e o julgamento chega ao fim. Com as eleições municipais consolidadas, os holofotes já não estarão tão interessados. Não demorará a chegar o dia em que Joaquim Barbosa, juiz correto que é, defenda interesse colidente ao da opinião publicada (sobretudo depois de confessar ter votado em Lula e em Dilma). Nesse dia, não poderá dormir, pois considerando como se conduzem as coisas públicas no Brasil, instantaneamente será alvo de execração pública, tal como no episódio em que teria sido flagrado em um bar em Brasília alegadamente durante uma licença médica.

Foi assim com Lewandowski. Não nos esqueçamos que até ontem ele era o herói do Ficha Limpa. Ele ia nos salvar; ele ia nos redimir. Hoje, por divergir do Batman, é retratado como o Coringa.

E assim caminha a construção dos debates nacionais: a partir de maniqueísmos, heróis e devassas. Não necessariamente nessa mesma ordem. E, sob a poeira do zepelim, permanecemos sem uma reforma eleitoral, sem repensar o financiamento de campanhas, acríticos quanto à vocação de uma corte suprema e o sentido do foro privilegiado.  Entorpecidos, porém, pelas sisudas capas magistrais.

Um comentário:

  1. Muito bom! Estou curioso para ver o que será das viuvas do mensalão assim que o relógio badalar meia noite e um e o encanto do julgamento acabar, restarão sapatinhos de cristais ou capas pretas aos ministros ?

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