Todos
conhecem a história de Geni, personagem de Chico Buarque que, sexualmente ativa
e pouco seletiva em relação a seus parceiros, era enxovalhada pelos moradores
da cidade. Um belo dia, ali aporta um temível malfeitor, conduzido por um
zepelim prateado, decidido a eliminar o povoado. Ao conhecer Geni desiste do
plano, caso ela com ele se deitasse. Nesse momento, Geni passa de devassa a
santa: “vai com ele, vai Geni, você pode nos salvar, você vai nos redimir”,
clamavam seus concidadãos. Passada a noite de amor, Geni, exausta, não consegue
dormir, pois os moradores da cidade, tão logo parte o zepelim, tornam a
publicamente perturbar a moça.
Aproximando-se
o fim do julgamento da Ação Penal n. 470 Joaquim Barbosa ocupa o papel da santa
Geni. É ele quem vai nos salvar, nos redimir. Reproduzido nas redes sociais
como um Batman da justiça, Sua Excelência vai sendo construído como um
presidenciável. Talvez Freud explique, mas na chefia do Judiciário já afirmou
que vai querer participar ativamente da indicação dos próximos Ministros do
Supremo, em clara oposição ao texto daquela coisinha sem importância chamada
constituição (com minúscula mesmo, por força das circunstâncias).
Mas
o zepelim está por partir. Um dia a cantilena acaba e o julgamento chega ao
fim. Com as eleições municipais consolidadas, os holofotes já não estarão tão
interessados. Não demorará a chegar o dia em que Joaquim Barbosa, juiz correto
que é, defenda interesse colidente ao da opinião publicada (sobretudo depois de
confessar ter votado em Lula e em Dilma). Nesse dia, não poderá dormir, pois considerando
como se conduzem as coisas públicas no Brasil, instantaneamente será alvo de
execração pública, tal como no episódio em que teria sido flagrado em um bar em
Brasília alegadamente durante uma licença médica.
Foi
assim com Lewandowski. Não nos esqueçamos que até ontem ele era o herói do
Ficha Limpa. Ele ia nos salvar; ele ia nos redimir. Hoje, por divergir do
Batman, é retratado como o Coringa.
E
assim caminha a construção dos debates nacionais: a partir de maniqueísmos,
heróis e devassas. Não necessariamente nessa mesma ordem. E, sob a poeira do
zepelim, permanecemos sem uma reforma eleitoral, sem repensar o financiamento
de campanhas, acríticos quanto à vocação de uma corte suprema e o sentido do
foro privilegiado. Entorpecidos, porém,
pelas sisudas capas magistrais.
Muito bom! Estou curioso para ver o que será das viuvas do mensalão assim que o relógio badalar meia noite e um e o encanto do julgamento acabar, restarão sapatinhos de cristais ou capas pretas aos ministros ?
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