Mais uma vez, o julgamento do
mensalão voltou a ser a principal pauta nas discussões nacionais. Dessa vez,
com um novo objeto ainda mais específico: o cabimento dos embargos infringentes
no STF nos casos de ação penal originária.
Aproveito para fazer uma breve
contextualização: os embargos infringentes tem seu cabimento comum previsto no art.
609, do CPP, o qual admite a sua interposição contra decisões de segunda
instância não for unânimes e desfavoráveis ao réu. Nesses casos, cabe às
instâncias superiores, STF ou STJ, julgar novamente apenas os pontos
controvertidos entre os julgadores da instância inferior. Sobre isso, doutrina
e jurisprudência já pacificaram seu entendimento.
A questão mais polêmica do atual
debate é a admissão do mencionado recurso no STF para ações penais originárias.
Por um lado, o artigo 333, inciso I, do Regimento Interno da Corte, de 1969,
recepciona os embargos infringentes contra decisões não unânimes que julgue
procedente ação penal, por outro a Lei 8038/90 que disciplina sobre os recursos
cabíveis para o STJ e STF e sobre o procedimento das ações penais originárias
nesses órgãos não prevê o recurso em questão.
Aqueles contrários a admissão dos
embargos sustentam, grosso modo, que
a Lei 8038/90, ao não mencioná-los, revoga-os tacitamente, tendo em vista que é
posterior ao regimento interno da Corte, editado em 1969. Além disso,
defende-se também que, com a aceitação dos embargos, prolongaria-se ainda mais o
julgamento no tempo, o que poderia levar à prescrição de alguns crimes ou à
absolvição de alguns réu, criando assim um clima de impunidade, o que choca a
opinião pública brasileira.
Diante desse argumentos, muitas
vezes acentuados de forma irresponsável e irreal pela mídia, algumas coisas
devem ser ponderadas: o nosso processo penal deve caminhar conduzido pelas
garantias constitucionais que legitimam o exercício da jurisdição pelo judiciário.
Garantias como o contraditório, a ampla defesa, o duplo grau de jurisdição
devem ser sempre observadas ao julgar a responsabilidade penal de um indivíduo.
Isso não pode ser posto de lado para alcançar o resultado que se deseja ou para
agradar os anseios da sociedade brasileira e muito menos para alcançar a
punição dos réus a qualquer custo.
Os embargos infringentes permitem
que uma nova análise de alguns pontos seja feita, possibilitanto que possíveis
injustiças ou erros sejam corrigidos, evitando também que penas desproporcionais
sejam aplicadas. No caso da ação penal 470, 4 ministros votaram em conformidade
com o alegado pela defesa, deixando claro que a questão não é de fácil
auferição e muito menos que há consenso sobre a materialidade de alguns crimes
e sobre a suficiência de algumas provas para levarem os réus à condenação. Como
a liberdade, um dos direitos mais relevantes, está em jogo, não existe prejuízo
em expor o caso a mais uma análise.
É importante ressaltar que, ao
contrário do que vem sido dito, os embargos infringentes não levarão à
impunidade, decorrente de possíveis absolvições ou prescrições. Com a publicação
do acórdão condenatório, no final de 2012, a prescrição foi interrompida e começou
a contar novamente. A contagem não é a mesma que se iniciou com o recebimento
da denúncia, portanto as chances de prescrição são realmente muito pequenas. Em
relação à absolvição, 11 dos 12 réus já estão condenados pela ação penal 470,
independente do resultado do julgamento dos embargos. Isso porque esse recurso
apenas analisa as questões que possuíram divergência de 4 votos ou mais. No
caso do ex-ministro José Dirceu, por exemplo, o máximo de redução que sua pena
pode ter é de 10 anos e 10 meses para 7 anos e 11 meses, pois apenas houve a
divergência necessária no crime de formação de quadrilha. Essa alteração muda o
regime inicial de cumprimento de pena? Sim, mas voltamos a ressaltar que o
julgamento em debate não deve buscar a condenação rigorosa dos réus, e sim a
devida aplicação das normas penais, em observância às garantias constitucionais
inerentes a um Estado Democrático de Direito. Os direitos individuais não podem
ser seifados para agradar o clamor popular ou para alcançar uma punição
exemplar. Utilizo-me das claras palavras do Ministro Luís Roberto Barroso: “Ninguém deseja o
prolongamento desta ação. (...) Mas é para isso que existe a Constituição: para
que o direito de 11 não seja atropelado pelo interesse de milhões."
(post escrito com a colaboração de José Paulo Naves)
Concordo com a análise, procura-se penalizar através da liberdade, jogando essas pessoas na prisão, acho que em crimes do colarinho branco o que deveria ser feito é a condenação não só à pessoa, mas principalmente aquilo que ele buscava com o cometimento do crime, a propriedade. Deveria haver penas exemplares de intervenção na propriedade desses sujeitos porque ainda que se cometessem excessos nesse sentido, o máximo que iria acontecer a essas pessoas é comer ovo frito, pegar ônibus, etc, coisas que as pessoas pobres já convivem há muito tempo.
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